Tarcísio Motta: O Buraco do Lume não pode ser soterrado pelo concreto da ganância

O deputado comenta que o espaço é tradicionalmente um local para manifestações públicas

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Estátua de Marielle Franco no Buraco do Lume
Estátua de Marielle Franco no Buraco do Lume - Foto: Raphael Fernandes/Diário do Rio

Nas últimas semanas, ressurgiram os rumores de que um grande edifício residencial será construído em um dos locais mais emblemáticos do centro da cidade do Rio de Janeiro: a Praça Mario Lago, mais conhecida como Buraco do Lume. Quem acompanha a política carioca sabe, assim como os cidadãos que trabalham nas proximidades ou que por ali transitam, que o local é tradicionalmente reconhecido como um espaço de manifestação pública, servindo principalmente como palco para os partidos de esquerda. Nós, do PSOL, por exemplo, costumamos ocupar a praça todas as sextas-feiras, quando aproveitamos para prestar contas aos nossos eleitores e fazer um balanço de nossos mandatos. Foi também nesse local que foi erguida uma estátua em homenagem à vereadora do PSOL Marielle Franco, minha amiga e companheira de luta, covardemente assassinada em março de 2018.

A verdade é que aquele pequeno pedaço de verde no coração do Rio de Janeiro carrega uma história rica e, há muito tempo, é alvo de polêmicas. Em 1963, existia ali a Praça Henrique Lage, demolida naquele ano para dar lugar à construção de um prédio que seria a sede do então Banco do Estado da Guanabara (BEG). Durante as obras, parte do terreno foi utilizada como canteiro de obras pela empreiteira. Após a inauguração da nova sede, uma área do terreno foi transformada em estacionamento para os funcionários do banco. Em 1973, o terreno foi leiloado, e o Grupo Lume, que faliu durante a ditadura militar, apresentou a melhor proposta, com a promessa de construir sua sede no local. O projeto previa a construção de um arranha-céu de 50 andares, que seria o maior do Brasil, mas nunca saiu do papel. O resultado foi um enorme buraco, fruto das escavações no terreno, que permaneceu por anos cercado por tapumes e alagado. Não demorou para que os cariocas batizassem o local de “Buraco do Lume”, nome pelo qual é conhecido até hoje.

A praça havia sido tombada em 2020 devido à sua importância histórica – foi uma das últimas áreas antes ocupadas pelo Morro do Castelo a serem urbanizadas, ainda na década de 1970. No entanto, a Alerj decidiu destombá-la por meio de um projeto do deputado Rodrigo Amorim (PTB) – o mesmo que ganhou notoriedade ao quebrar a placa em homenagem à vereadora Marielle Franco. Aliada à ganância e à especulação imobiliária, que parecem dominar a cidade, essa decisão coloca mais uma vez em risco a preservação da nossa memória urbana. A possível construção de um novo empreendimento imobiliário no Buraco do Lume ameaça a integridade do local e tem causado preocupação até mesmo entre os comerciantes da região, que acreditam que a área sofrerá impactos negativos caso o projeto avance.

Se permitirmos que o Buraco do Lume seja entregue à especulação imobiliária, estaremos abrindo um precedente perigoso, permitindo que outros espaços de relevância histórica e social na cidade sejam igualmente apagados em nome do lucro. O Rio de Janeiro já perdeu muito de sua identidade para projetos que ignoram a memória coletiva e os interesses da população. Ainda há tempo para reverter esse cenário, mas isso exige mobilização popular e pressão sobre as autoridades, para que a praça continue sendo um símbolo de resistência e participação democrática. O Buraco do Lume não pode ser soterrado pelo concreto da ganância.

*Tarcísio Motta é professor de história licenciado, foi vereador da cidade do Rio e hoje é deputado federal pelo PSOL-RJ

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3 COMENTÁRIOS

  1. Não vi esse barulho todo quando Duda Paes e Cabral resolveram destruir o Centro da cidade com o VLT, depois de lojas falirem e milhares de pessoas perderem seus empregos, agora o que resta são lojas vandalizadas e em algumas ruas um deserto só. Vai fazer reuniãozinha em seu apartamento.

  2. Se Tarcisio entrar na campanha de preservação sem partidarizar, ok. Mas se vier nessa vibe de transformar o local em objeto de culto a imagens como o PSOL quer incutir na sociedade para a figura de Marielle Franco, esquece. É a realidade que se impõe, não estética ou pseudo-ideologia.

  3. Banalidade. Tarcísio, assim como Paes, Castro, Freixo e todos os políticos do Rio, são arregados com a BANDIDAGEM. Todos juntos pra matar, roubar e oprimir o povo. Vala pra todos!

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