Ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, um dos melhores pontos de toda a Zona Sul Carioca, funciona há décadas na rua Joana Angélica o Campus da Universidade Cândido Mendes na Zona Sul. O prédio vermelho e branco, famoso pelo seu fervilhar cultural, além de sediar a faculdade, teve desde sua construção um Teatro e uma Galeria de Arte que estiveram sempre na vanguarda. A universidade de 120 anos, porém, a por uma Recuperação Judicial e tem sido obrigada a vender imóveis para atender à sua comissão de Credores. Em dezembro de 2023, o SESC comprou o antigo Campus da Cândido na Praça Pio X por cerca de 25 milhões de reais, conforme noticiamos aqui no DIÁRIO.
A entidade, que ainda possui seu antigo Campus – hoje abandonado – na Estrada das Canoas, imóveis em Campos dos Goytacazes e seu tradicionalíssimo e imenso Campus da Rua da Assembleia – no Centro do Rio – deve vender o disputado prédio de Ipanema no próximo mês. A sistemática que será utilizada é o modelo de venda judicial chamado “stalking horse” (em tradução livre, ‘cavalo de perseguição’): nesta modalidade, diversas empresas colocam propostas através de petições dentro do processo de Recuperação, e a que colocar a proposta mais favorável segundo a Universidade, os Credores e o Ministério Público, terá o direito de preferência numa oferta pública que se segue. Nesta oferta pública, o leilão é aberto com a proposta oferecida e aprovada por todos. Por alguns dias, outros podem cobrir a proposta, mas o “cavalo” escolhido terá sempre a preferência, nas mesmas condições, desde que concorde com o incremento proposto pelo novo interessado.
O cavalo “premiado” desta vez é um empresário do ramo hoteleiro, dono do Hotel Astoria Copacabana, que fica na rua República do Peru, em Copacabana. Ele colocou nos autos uma proposta de 52 milhões de reais, a serem pagos com uma polpuda entrada de 40 milhões de reais, e o saldo em 12 parcelas. O DIÁRIO teve o à proposta formal, na qual o empresário afirma que “conheceu e conferiu o imóvel e seu respectivo título de posse e propriedade, em relação aos quais assume integral e exclusiva responsabilidade em relação aos respectivos riscos”. No documento, exige receber a posse da propriedade até o mês de dezembro, e rejeita qualquer responsabilidade sobre dívidas da Cândido Mendes.
A proposta suplanta, segundo explica a juíza Maria Izabel Gomes Santanna de Araújo, da 5a. Vara Empresarial, uma outra, de 53 milhões, oferecida por uma incorporadora imobiliária, que pretendia o pagamento dividido em 25 parcelas iguais. Com este ponto de vista, concordaram tanto o judicial da Cândido Mendes quanto o Ministério Público, ficando decidido que será esta a proposta “balizadora do leilão a ser realizado“, “com base na proposta vinculante apresentada, sendo tal valor utilizado para lance minimo“. A magistrada determinou a publicação de um edital para a venda do edifício da rua Joana Angélica, que tem cerca de 6.000m2.
Na mesma decisão, a juíza determinou que o Condomínio do Edifício Cândido Mendes, na rua da Assembléia, apresente a composição do valor dos débitos da Universidade para receber finalmente as cotas condominiais em atraso, utilizando-se do valor pago pelo SESC na compra do prédio da Praça Pio X, que tem 13 andares e uma fachada modernista. Segundo o condomínio, o valor a receber seria de um milhão e meio de reais. A empresa possui 7 andares no prédio, além de um bonito teatro e lojas no térreo.